O Comediante

As vezes eu quero gritar

Até sentir minha garganta rasgar

E mesmo que depois disso eu fique mudo

Seria melhor do que me calar cotidianamente

As vezes eu quero sumir

Para a falta daqui sentir

E no centro da avareza ver o mundo

Mesmo que por um segundo, diferente

As vezes eu quero me queimar

Para os meus ossos, cinzas se tornar

E no topo da minha ira achar a paz

Das cinzas tornar-me outro eu

As vezes eu quero dormir

E nos meus sonhos o mundo colorir

Na preguiça sentir-me uma única vez capaz

Talvez encontrar alívio em meu apogeu

As vezes eu quero tudo que me foi negado

Tudo aquilo que de mim foi apagado

Para dentro da minha gula sentir conforto

Do centro do caos ver a perfeição

As vezes eu quero ver todos felizes

Que se apaguem as cicatrizes

Para que na podridão da inveja eu me sinta morto

E da esperança renovar meu coração

As vezes eu quero me deitar na sujeira

As noites me afogar em bebedeira

Na falsidade da luxúria me abduzir

Jogar toda a falsa esperança em uma gaveta

As vezes só quero me calar

Minha alma, dentro de mim abafar

E na escuridão do meu orgulho sorrir

O triste fim de um poeta

A minha divina comédia.

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